JACQUES LABERGE


PORTUGAIS


Repetição e real em tempos de transferência


É uma mina este Seminário 11 de Lacan, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Não falta assunto para nos ocupar. Ainda bem, já que nos analistas e interessados em psicanálise temos um horror especial em ficarmos desocupados !

O início do Seminário me deixou intrigado e curioso. Destacou-se o sonho, sonho grito, sonho desespero, sonho demanda não ouvida de amor, demanda articulada a um desejo que uma libido ardente presentifica, efetiva, resto de acusação, resto de crime-castigo, resto sobre o reconhecimento de filiação na crueldade lógica do complô das fantasias edípicas em que um filho paga pela morte real anteriormente à morte real do pai. Pai, não vês que estou queimando?

Este Seminário, talvez o mais decisivo deles, surge após a ruptura com a IPA e transcorre num período de vazio institucional. Lacan teve que suspender seu Seminário sobre os Nomes do Pai e esperar para iniciar este. Resto do Seminário frustrado sobre os Nomes do Pai, o sonho se revela como o representante de toda uma elaboração cortada, significante determinante. Em algumas ocasiões, Lacan lembrou que em suas lições semanais se situava como analisante. Lemos em L'insu, a 14-12-76, : sou o histérico perfeito, isto é sem sintomas, com a exceção que, de vez em quando, erro de gênero, referindo-se à troca do feminino pelo masculino na frase a senhorita é reduzido, o que nos remete à homossexuação do desejo na histeria. Sabemos também que o analisante histericiza seu discurso, embora use também o discurso do mestre ou do universitário/obsessivo. Na passagem de um discurso ao outro, atravessa o discurso do analista, questionamento pelo desejo do analista apontando para a hiância da falta. Neste contexto, poderíamos pensar no sonho Pai, não vês que estou queimando? como sonho de Lacan, como um apelo angustiante de Lacan a Freud. Tempo decisivo da transferência, em que um sonho narrado por Freud se torna um sonho de Lacan, novo significante que, em seu ensino, representa uma reorientação na continuidade.

Nos vários termos, "Verbrenne" em alemão, "brûler" em francês, "arder" em espanhol, "queimar" em português, e equivalentes em outras línguas, encontramos freqüentemente o particípio passado, o adjetivo, "brûlé", "queimado", como equivalente de desacreditado, acabado. E enquanto presente do indicativo ou particípio presente, "je brûle" , "estou queimando", remete ao ardor da libido, mas também ao momento privilegiado de estar no ponto de descobrir algo, de desvendar algum mistério, de solucionar um problema, algo popularizado pelas adivinhações e pelos jogos de esconde-esconde. Lacan acaba de ser "queimado" pelos colegas da IPA : como pode ele revindicar sua filiação freudiana ? Queimado pela IPA por se afastar de uma certa ortodoxia, queimando em relação a Freud, pois ser fiel não pode ser simplesmente repetir Freud, mas reinventá-lo, ir além, fazer uso do
Nome-do-Pai. O Seminário 11 vai permitir aliar à continuidade de sua linha de trabalho o início de uma reorientação : Lacan estará "queimando" especialmente em relação ao real. Não somente inicia um período em que o real ocupará um lugar mais adequado, mas em que esta importância permitirá a Lacan estar no ponto de dar ao real uma definição mais apropriada permitindo formalizações futuras.

Após o instante de ver a ruptura, Lacan precisará da elaboração do tempo de compreender na travessia deste Seminário para, no tempo de concluí-lo, definir como freudiana a Escola que funda.

Simbólico do automatismo - real do desencontro

Pai , não vês ? O Pai mesmo não vê, o olho olha sem ver. O mau olhado e o mau encontro perpassam por cegueiras e tropeços imaginários reduzíveis, diferentes do irreduzível real do desencontro. Este sonho entra na ilustração da diferença entre automaton e tuquê, repetição e trauma. Conforme o Além do princípio do prazer, é em referência ao trauma que há repetição, esta situada em relação ao princípio do prazer num pre-tempo, numa posição chamada mais primitiva, mais elementar e mais pulsional (G.W. XIII,22,32-33). O Além do princípio do prazer corresponde a um aquém em relação ao tempo. A repetição se situa do lado do automaton e o trauma do lado da tuquê. Por outro lado, destacando o trauma como real, o que chamamos "o real do trauma", Lacan, no Seminário I , não negligencia a respeito do Homem dos Lobos nem o imaginário do trauma nem sua relação ao simbólico do mito edípico.

Ele se inspira de Aristóteles para mudar a tradução habitual do Wiederholungszwang, compulsão de repetição, por automatismo de repetição, cabendo o termo compulsão à neurose obsessiva "Zwangsneurose". Já a primeira frase do texto de 1955 Seminário sobre a carta roubada define o automatismo de repetição como insistência da cadeia significante (E.11). O fato de Lacan escolher o termo automatismo, automaton, associado ao simbólico imbricado ao imaginário do mesmo, em oposição, em articulação ao tuquê do real, indica que a repetição é do campo do significante, do recalcado, embora seja sempre em relação à não inscrição no recalque, do núcleo do trauma, do real. O que se repete nos diz bastante sua relação à tuquê (...) real como encontro (...) fracassado (perdido) (54), lemos no Seminário 11. Lacan não afirma : "o que se repete é a tuquê" mas nos diz bastante sua relação à tuquê. A partir de Encore de 1972-73, esta insistência vai se chamar, conforme as categorias aristotélicas, o necessário, que não cessa de se escrever, frente ao impossível do real, que não cessa de não se escrever. O automaton do simbólico está intrincado aos meandros da inflação imaginária do sofrimento do analisante, ele próprio podendo até saborear as expressões neuroses de destino, de fracasso, para se embriagar de sentido. Dos desencontros reduzíveis, do imaginário inflado de sentido que a diferença na repetição vem cortar, sobra um resto irredutível, o real do desencontro. A repetição na experiência analítica se desdobra em diferença e repetição, pois o que caracteriza o significante é sua diferença com outro significante, esta diferença cortando, reduzindo o mesmo do imaginário. Por outro lado, no diálogo com o analista, a armadilha do analisante consistirá constantemente em querer confundir incapacidade imaginária e impossbilidade do real.

O sonho sobre o pai que não vê o filho queimando servirá para dar um certo prumo à expressão o real, o que volta sempre ao mesmo lugar. Até então, esta expressão ficava de certo modo confusa em sua associação aos astros, esses que constituem a paixão dos psicóticos schreberianos. Mas o real "que volta sempre ao mesmo lugar" já anunciava algo outro do que o delírio. É é o Seminário 11 que define o real como desencontro, real que volta, embora o termo "escapar" fosse mais adequado do que o de voltar. Este real do desencontro, dalí também a relevância do sonho pai, não vês que estou queimando?, desemboca na afirmação : O mau encontro central está no nível do sexual (62). E mais adiante aparecerá o real como impossível. Assim o real do desencontro pai-filho leva Lacan a estar queimando, isto é, muito próximo de formular a expressão que surgirá depois do Seminário 11 : o real como impossível do rapport sexual. Podemos entender a razão por quê, na sessão de 29 de janeiro de 64, será a última vez, e isso é significativo, a última vez, em que Lacan vai insistir em algo muito repetido até então, a dificuldade que representa a noção de real. Depois do Seminário 11, não precisará mais adjetivar de difícil a noção de real.

Como sua tríade simbólico-imaginário-real atravessa todo seu ensino, seja de 1953 até o fim, destaca-se a continuidade no ensino de Lacan. Mas não podemos negar também reorientações de caminho, embora não sejam tão radicais quanto os novos rumos da segunda tópica em relação à primeira em Freud. A partir de 1953 até o Seminário 11, predomina a articulação da dupla simbólico-imaginário, sob o domínio do simbólico, tendo como resto um real, ora real mesmo, ora real confundido com realidade. Mas apesar desta confusão inicial, o real mesmo, "o que escapa", já se encontra na primeira referência à tríade, no texto O simbólico, o imaginário e o real de 1953 e vai ser referido nos primeiros anos do Seminário a respeito das doenças psicossomáticas, do acting-out, da passagem ao ato, dos fenômenos psicóticos, como algo da ordem da forclusão. Há recalque ou forclusão. E quando há recalque, há elementos fugindo a este recalque. Aliás, precisamos observar que sendo o recalque da ordem do simbólico, seria mais adequado dizer "o real do não recalque", do que "o real do recalque".

Até 1963, predomina a articulação simbólico-imaginário, o real sendo um resto. Após a ruptura da IPA, o Seminário 11, dalí sua relevância como eixo-passagem, se destaca a articulação simbólico-real abrindo para o imaginário como intermediário. A partir do Seminário Encore de 1972-73, haverá um novo reordenamento com a insistência sobre a escrita, escrita dos nós, em que se articulam os tres registros. Não se trata mais da dupla primeira simbólico-imaginário com o real como resto destacada de 1953 até 1964, nem da dupla segunda simbólico-real abrindo para intermediação do imaginário de 1964-1972, mas do enodamento dos tres registros, sublinhando-se a equivalência deles. Esta equivalência culmima em R.S.I, isto é no real da letra, sem sentido da letra, para, em conjunto com o Seminário seguinte Le Sinthome encaminhar-se, graças ao quarto nó Nome-do-Pai , da equivalência para a diferença dos registros. Esta diferença se articula nas tres duplas simbólico-real do sintoma, simbólico-imaginário da inhibição, imaginário-real da angústia, nas tres duplas simbólico-real do gozo fálico, simbólico-imaginário do sentido, imaginário-real do gozo do Outro. A escrita como aperfeiçoamento do significante traduz termos aristotélicos : cessa de se escrever (é possível que o sintoma deixe de se escrever, podemos ser menos neuróticos), cessa de não se escrever (é contingente a inscrição do falo, é contingente escapar à psicose), não cessa de se escrever (a repetição é necessária ao sintoma, pois "uma vez neurótico, para sempre neurótico !"), não cessa de não se escrever (real como impossível do rapport sexual). Trata-se da escrita do falo, que obstaculiza a escrita do rapport sexual, o recalque da significação fálica impedindo o recalque do rapport sexual. Este obstáculo-impedimento mereceria o nome de trauma estrutural.

Em relação ao esquema da metáfora paterna que ilustra a passagem debaixo da barra do recalque do desejo materno e, em conseqüência, também da significação fálica, o sonho Pai ,não vês que estou queimando, resto do Seminário interrompido sobre os Nomes do Pai, por ser expressão da ruptura e por apontar para o real do desencontro e remeter ao impossível do rapport sexual, marca um passo à frente na passagem da dupla simbólico-imaginário com o real como resto para a dupla simbólico-real abrindo ao imaginário como intermediação.

Do real da pulsão ?!!

Na excomunhão de Lacan em fins de 63, destaca-se uma crítica : por negligenciar a pulsão, seu ensino não passaria de uma "intelectualização". Embora Lacan redirija esta acusação à "psicologia do ego" , esta crítica não deixou de ter seu peso, pois neste Seminario 11, ele vai trabalhar detalhadamente o texto de Freud As pulsões e suas vicissitudes. Freud teorizou sobre a pulsão, apelando, de certo modo, para uma teoria do desejo. E Lacan, após ter dado nos primeiros Seminários uma primazia ao inconsciente, ao simbólico, ao significante, constroi sistematicamente sua teoria sobre o desejo: no Seminário V, desejo, mola dAs formações do inconsciente, original em relação à demanda; no Seminário VI, desejo e fantasma a respeito da Interpretação; no Seminário VII sobre A Ética da psicanálise, desejo e lei, desejo de morte; no Seminário VIII sobre a transferência, amor e desejo. A "questão do desejo do analista" aparece em A direção do tratamento de 1958 como efeito do Seminário V. Além de ser desconhecido como todo desejo, o desejo do analista no texto de Lacan é sempre acompanhado da palavra "questão" ou colocado como pergunta : Pareço dizer a mesma coisa no meu ensino nestes últimos anos (...)_qual o desejo do analista ? (14), eis uma frase que encontramos no Seminário 11. Agora, Lacan pode articular a teoria da pulsão em Freud com sua teoria do desejo, um dos aspectos que dão singular relevo a este Seminário .

A articulação simbólico-real passa pela pulsão. A novação à qual fiz alusão e que se chama invocação do campo e da função da fala e da linguagem na experiência analítica não pretende ser no conflito uma posição que exaure (117). É paradoxal Lacan chamar de "alusão" a referência ao texto fundamental de 1953 que destaca a função estruturadora do simbólico e lhe confere uma primazia. De fato, esta frase indica uma certa correção de rumos. Impõe-se uma melhor articulação com o real, limitando o simbólico. Posteriormente, em seu Séminário "Les non-dupes errent", ele comenta que erramos em atribuir ao simbólico uma importância esmagadora em relação a um imaginário no qual comecei atirando por causa do narcisismo (13-11-73). De fato, se erramos é que seguimos o exemplo de Lacan e continuamos atirando no imaginário associado a "ilusório" e "paranóico". O imaginário assumiu tal predominância com Anna Freud e os psicólogos do ego e, embora diferentemente, também com a psicanalista Melanie Klein, que a predominância do simbólico como reação a um predomínio imaginário seria a consequência lógica do ensino de Lacan.

De fato, a dupla simbólico-imaginário, como aparece na primeira parte do ensino de Lacan, sublinha uma primazia do simbólico pela sua função estruturadora. Também, ao longo de todo seu ensino, Lacan usa normalmente, e mesmo no Seminário RSI, a sequência "o simbólico, o imaginário e o real" , que é chamada de sequência correta no Seminário Le Sinthome. A própria experiência analítica ilustra como o simbólico, o surgimento de novos significantes, reestrutura o imaginário. A partir do Seminário 11, o acento dado à dupla simbólico-real vai apelar para a necessidade da intermediação do imaginário, o que permitirá uma avaliação mais adequada da importância do imaginário.

O estudo de Lacan sobre As pulsões e suas vicissitudes, vai servir de ilustração da articulação simbólico-real. O real da pulsão não é o biológico da pulsão, porque uma função biológica (..) tem sempre um ritmo, dia-noite, primavera-outuno, enquanto a pulsão tem uma pressão constante (150). Constância individualizada, variável. Isto é, as pessoas têm mais ou menos boca grande (156). O real como impossível aparece alí enquanto nenhum objeto de nenhum precisar (not) pode satisfazer a pulsão (152-153). Nenhum alimento satisfará nunca a pulsão oral, senão contornando o objeto eternamente faltante (164). Podemos colocar em relevo aqui o real da satisfação impossível. Real apontado também na dessexualização ilustrada pelo nojo da histérica, sintomas podendo aparecer em outras zonas erógenas do que nos orifícios do corpo, fonte da pulsão.

Lacan desenha a pulsão em seu movimento circular de ida e volta, aludindo sugestivamente neste Seminário 11 a uma citação de Heráclito : Ao arco, é dado o nome de vida - Bios, e sua obra é a morte. O grafo do desejo herda o legado de uma história muito antiga .

Lacan destaca o simbólico da pulsão quando a descreve como "montagem" e quando sublinha o recurso de Freud à língua e aos sistemas linguísticos nas vias ativa, passiva e refletida no movimento de ida e volta da pulsão. E associa a pulsão aos desfiladeiros da demanda.

O imaginário da pulsão estaria sobretudo presente nas chamadas Ichtriebe que, diz Lacan, não são verdadeiras pulsões (164). Agora, ocorre o questionameto do amor, campo da reciprocidade, pela pulsão, campo da heterogeneidade, questionamento até agora reservado ao desejo que a expressão "desejo do analista" representa : distinção radical que há entre amarse através do outro - o que não deixa no campo narcísico do objeto nenhuma transcendência ao objeto incluído - e a circularidade onde a heterogeneidade da ida e volta mostra em seu intervalo uma hiância (177). Lacan diferencia duas faltas, a primeira, ligação de "ser sujeito ao sexo" à morte individual, lembrando que a pulsão parcial é fundamentalmente pulsão de morte e a segunda , o fato que o sujeito depende do significante e que o significante está em primeiro lugar no campo do Outro (186-187). E Lacan articula pulsão e desejo : O objeto do desejo, é a causa do desejo, e este objeto do desejo é o objeto da pulsão, isto é, o objeto em redor de que gira a pulsão (...) o desejo dá a volta enquanto agido na pulsão.(..) Mas cada vez que temos a ver com um objeto de bem, o designamos (...) o objeto de amor (220).

Constitue uma contribuição decisiva deste Seminário o intrincamento da pulsão ao desejo enquanto questionamento ao amor, questionamento, é claro, ao amor de transferência.

Tempos de transferência

Para o congresso de Convergência de fevereiro de 2001 em Paris, o cartel "tempo e inconsciente" ao qual participo com Alain Didier-Weill, Alba Flesler, Isidoro Vegh, Nora Markmann, Paola Mieli e Ricardo Saiegh levanta questões que vão balizar agora meus comentários.

Se Parmênides negava o tempo que Heráclito reconhecia, Newton e Einstein consideravam a dimensão do tempo inexistente fora do espírito humano. Em seus livros La fin des certitudes et Les lois du chaos, Prigogine, prêmio Nobel de química em 1977, e também físico e filósofo, introduziu a dimensão do tempo em física. Ele sustenta que o tempo precede a existência e que se o universo teve um início, o tempo não teve. A questão do temmmpo está revolucionando a ciência.

Em psicanálise, os paradoxos, meio incontornável de nossos debates, parecem se exacerbar a respeito do tempo. Freud falava da a-temporalidade do inconsciente, e Lacan, da sincronia determinante do desejo em relação à diacronia, cronologia da história de um sujeito. Esta a-temporalidade freudiana se confronta com os relatos sobre as primeiras histéricas permeados de perguntas sobre o tempo, tempo do surgimento do sintoma. Hoje frente à queixa formulada por analisantes, perguntamos : "quando é exatamente (o genau muito repetido por Freud) , que começou a gague, a gague, a gague-jar jar?" ou "quando é que ficou com este tique do olho ?" Interrogação sempre válida. Constantemente, curtos-circúitos inconscientes rearticulam significantes : tal fato narrado remete a tal outro; tal conversa sobre um encontro em tal data recorda um anterior; algo inesperado surge, por exemplo, ao fim de tres anos de análise, evocando algo dos tres anos de idade. É o "nachträglich" destacado por Paola Mieli a respeito do traumatismo cuja verdade histórica se vê constantemente interpretada e reinterpretada, questionada pelo fantasma. Embora a primazia da morte no psiquismo do obsessivo dispense a morte real do pai na infância, esta morte real ocorrendo deixa suas marcas no fantasma de um sujeito. Alba Flesler usa a frase sugestiva : "o sujeito não tem idade, mas tem tempos". A cada tres anos, um sujeito provoca uma ruptura dolorosa, repetindo por exemplo a morte do pai. Podemos nos perguntar até que ponto "tres anos" pretende dar a idade do sujeito, evocando uma "conversão de tempo" pela repetição quando um tempo sucessivo se tornaria um tempo circular.

É difícil evitar a noção do tempo quando nos referimos aos termos "processo primário e processo secundário, princípio de prazer, princípio de realidade ". E Freud usa o termo "pre-tempo"(Vorzeit) e mais primitivo (ursprünglicher), quando qualifica o "além do princípio do prazer" da repetição em relação ao princípio de prazer. E quanto à pulsão, Lacan lembra que, para Freud, não há dia e noite, primavera-outono na pressão (Drang), e que, a respeito da fonte (Quelle), bordas dos orifícios do corpo, não existe esta relação de engendrar de uma das pulsões sexuais para outra (164), mas que a finalidade (Ziel) da pulsão aponta para o tempo, pois a pulsão está representando, e parcialmente, a curva da realização da sexualidade no vivente (...e) seu último termo é a morte (161-162). Há tres tempos, neste movimento circular da pulsão, de ida e volta, pois aparece um novo sujeito (...) que é propriamente o outro (...) enquanto a pulsão pode fechar seu curso circular (162).

A respeito do tempo em Lacan, destaca-se o tempo lógico "instante de ver, tempo de compreender, momento de concluir" que Isidoro Vegh chama "densidade de tempo" modificada pela "dimensão subjetiva" .

Mas o tempo está presente numa tese mais fundamental de Lacan, repetida de mil e uma formas. Por exemplo, neste Seminário 11, ele afirma : a relação do sujeito ao significante é o ponto de retificação geral da teoria analítica, pois é primeiro e constituinte tanto na instauração da experiência analítica quanto primeiro e constituinte na função geral do inconsciente. Lacan fala de S barrado, o sujeito, enquanto constituído como segundo em relação ao significante (127, 129). O sujeito é este surgimento que, imediatamente antes, como sujeito, não era nada, mas que, logo que aparece, se fixa em significante (181). Encontramos também o antes e o depois a respeito do vel da primeira operação essencial onde se funda o sujeito (...) a alienação (191) e de segunda operação (..) que vamos ver apontar o campo da transferência (..) a separação. Antes e depois, primeiro e segundo que repete o primário e secundário de Freud, a questão do tempo insiste na relação significante-sujeito e alienação-separação.

Relembro pontos indicados na primeira parte deste trabalho : do começo ao fim de seu ensino, e mesmo no texto do Seminário R.S.I., Lacan usa a sequência "o simbólico, o imaginário e o real". É a sequência "correta", "dans le bon ordre, como Lacan especifica em Le Sinthome. O "partir do simbólico" dos primeiros Seminários se reencontra em R.S.I. "é do equívoco fundamental a algo de que se trata sob o nome de Simbólico que sempre vocês operam" (10-12-74). Afinal, ao simbólico é atribuída uma função estruturadora, determinante, a qual função não desaparece com a equivalência dos registros. Alías, o surgimento do quarto nó Nome-do-Pai marca a passagem da equivalência à diferença dos registros e sua articulação em duplas, simbólico-imaginário, simbólico-real, real-imaginário.

Esta posição da "anterioridade lógica do simbólico" esbarra no chamado "real primordial" do caos primordial do qual a criançinha se vê arrancada pela música da voz da mãe, conforme a posição de Alain Didier-Weill em seu livro Les trois temps de la loi. Penso que se trataria aqui do pre-subjetivo da criancinha que, entretanto, nasce em um mundo já estruturado pela linguagem e pela lei da proibição do incesto que se situam em uma "anterioridade lógica do simbólico". Isso a respeito do pre-subjetivo. Quanto ao subjetivo, sem anterioridade do significante, nada de sujeito existe.

Lacan comenta também sobre a pulsação temporal a respeito do fechamento do inconsciente e afirma que a transferência é essencialmente resistente Übertragungswiderstand. A transferência é o meio por onde se interrompe a comunicação do inconsciente, por onde o inconsciente se fecha. Paradoxalmente o analista deve esperar a transferência para começar a dar a interpretação (119). A espera indica quanto incontornável é o tempo no manejo adequado da transferência.

Em Função e campo da fala e da linguagem (E.268), Lacan constata que a experiência analítica se reduz cada vez mais ao diálogo entre analisante e analista. Esta redução que, devemos admitir, exige tempo, tempo de elaboração, acaba se confrontando com uma outra posição de Lacan que polemizamos aqui : análise "na" transferência, sim ; análise "da" transferência, não. A critica à análise "da" transferência é provocada por certas abordagens persecutórias : sobre qualquer assunto ou personagem que o analisante menciona, o analista aponta para si-próprio. "Ontem, encontrei um idiota ! ", diz o analisante. "Sou eu", se apressa em dizer o analista ! O analista pode muito bem ocupar o lugar do idiota, mas não é necessariamente seu privilégio ! Em certos momentos, não é possível escapar à análise "da" transferência. Recordo ter indicado a certo analista em supervisão a necessidade da explicitação da transferência de seus analisantes. Ele duvidava desta orientação, insistindo na idéia que Lacan se opõe à análise "da" transferência. Efetivamente, deve-se evitar a artimanha persecutória que reduz todas as referências do analisante ao analista. Mas a análise "da" transferência se revela importante após um certo tempo da experiência e indispensável em momentos de impasse. Pois quando o discurso do analisante insiste nos impasses do tipo lista telefônica: sou o João incapaz, João fracassado, João desgraçado, João sem jeito, João péssimo filho, João pior pai, João insuportável marido, João zero à esquerda e zero-zero à direita, lista coroada da conclusão "essa análise é um fracasso" o que remeteria, segundo Freud, à necessidade de punição, esta repetição deve ser articulada aos significantes em jogo implicando diretamente o analista. Pois não deixa de ser acusação a ele, esta perpetuação da inflação imaginária do mesmo da queixa repetida, travando o surgimento de novos significantes ou neutralizando sua eficácia. Não haveria propriamente análise da transferência sem prévia análise na transferência, mas as duas acabam se imbricando justamente na medida da redução da experiência ao diálogo analisante-analista. Nora Markmann fala de tempo de construção seguido de tempo de interpretação. É um modo de nos perguntar até que ponto uma interpretação tem efeito sem algum tipo de construção prévia. Se incluímos a construção na interpretação, poderíamos pensar em tres tempos : primeiro tempo, esperar a transferência para interpretar; segundo tempo, interpretar na transferência; terceiro tempo, interpretar a transferência. Nova versão de instante de ver, tempo de compreender e momento de concluir.

As repetições das queixas gozosas não deixam de evocar os porquês das crianças. No intervalo cortando os significantes, o enigma do desejo do adulto ao qual a criança, por trás de seus inúmeros porquês, tenta dar um nome : o primeiro objeto que propõe a este desejo parental cujo objeto é desconhecido, é sua própria perda - Quer ele me perder ? O fantasma de sua morte, de seu desaparecimento é o primeiro objeto que o sujeito tem que colocar nesta dialética. A anorexia nervosa seria uma ilustração deste desejo de morte (194-195). O pai, às vêzes, totalmente exausto após implacável interrogatório, reage aos últimos porquês do filho :
-Por quê a toalha está branca?
-Porque não está vermelha.
-Por quê está olhando para mim?
-Porque não estou olhando para o teto. E faça o favor de deixar de perguntar.
-Deixar de perguntar? Por quê?

Nas neuroses muito graves, como podemos supor nas análises dos analistas, pois sem neurose grave é difícil chegar a ser analista, já que o analista é um efeito de uma análise intensiva, demorada, (e alí reaparece a questão do tempo da análise terminável-interminável ?), nas neuroses graves, em dado momento se esbarra no "sou incapaz, ponto final", a incapacidade assumindo semblante de impossível para confundir o analista, o que , muitas vêzes ocorre quando o analista se inclina em considerar real algo da ordem da inflação imaginária do sentido do sofrimento. Ouvindo o "sou incapaz, ponto final", é claro que o analista deve colocar alí um ponto vírgula, ou pontos de suspensão ou completar a frase "incapaz de..." Poderia encaminhar a questão para um histérico grave a respeito da "incapacidade ou impossibilidade de tornar-se mulher". Mas já que o desejo de morte seria, na repetição de seus porquês, o desejo atribuído pela criança aos pais para o enigma do desejo do Outro, caberia a associação da repetição queixosa, acusatória do analisante ao desejo de morte atribuído ao analista. A ida e volta da pulsão em seu tempo circular, deixa
um resto metonímico, elemento necessariamente em impasse, insatisfeito, impossível, desconhecido, elemento que se chama desejo (141). Precisa-se de tempo para a análise na transferência possibilitar uma análise da transferência que escapa ao enfoque persecutório, mas não escapa àquela questão angustiante do analisante : "será que você, meu analista,
deseja minha morte ? "

A análise parou ? Virou um pesadelo ? Pesadelo, este tempo sem transcurso conforme os comentários de Ricardo Saiegh. Prolifera a diversificação nas perturbações do tempo : tempo eterno na psicose, tempo protelado na neurose obsessiva e antecipado na histeria, tempo retido na fobia, tempo suspenso na inibição. Justamente, a respeito dos impasses nas análises de neuróticos graves em que a repetição de queixas sucede uma nova repetição das mesmas queixas, nos momentos de impasses correspondendo a uma parada no tempo, a um pesadelo, à análise desejada como fracasso, até que ponto nesta repetição dos porquês da criança revivida na análise, no "por quê estou sofrendo tanto? o analisante não estaria esbarrando no entrecruzamento dos desejos dos tempos da infância, a saber na questão que o analisante se coloca sobre o desejo de morte da parte do analista atravessando o desejo de morte do analisante sobre o analista.

Pra se chegar a colocar esta pergunta, o analisante precisa de tempo, de tempos de elaborações.


Novembro de 2000
Para um cartel do Congresso de "Convergência" de fevereiro de 2001


Notas :
- A primeira parte deste texto retoma elaborações de meu trabalho anterior "A interpretação dos Sonhos e o Real" apresentado no Congresso da Escola lacaniana de Psicanálise de agosto de 2000 no Rio de Janeiro.
- Os números entre parênteses indicam as páginas de Lacan, J., Le Séminaire, livre XI, Les quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse,(1964), Paris, Seuil, 1973.

- G.W. XIII, 22,32-33 remete à :
Freud, S., Jenseits des Lustsprinzip (1920), Frankfurt am Main, Fisher Verlag, 1940.

- São citados Seminários inéditos de Lacan:
o XXI, Les non-dupes errent (1973-74);
o XXII, R.S.I.(1974-75) ;
o XXIII, Le Sinthome (1975-76) ;
o XXIV, L'insu (1976-77).

- Refiro-me também à produção dos colegas do cartel:
Alain Didier-Weill, Les trois temps de la loi, Paris, Seuil, 1995;
Alba Flesler, Fin de análisis en los tiempos de la infancia, (Reunión lacanoamericana de psicoanalisis, Bahia, agosto de 1997);
Isidoro Vegh, Tiempo y inconciente; Reunión del cartel Tiempo y inconciente (Júlio de 2000); e um texto sobre "Borges";
Paola Mieli, Les temps du traumatisme, (Mai 2000);
Ricardo Saiegh, Pesadillas atemperadas por soñar (agosto 2000).


 

FRANÇAIS


Répétition et réel aux temps du transfert


C'est une mine ce Séminaire 11 de Lacan, Les quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse. Il n'y manque pas de quoi nous occuper. Heureusement, car analystes et intéressés par la psychanalyse, nous avons horreur du chômage !

Le début du Séminaire me laisse intrigué et curieux. Un rêve s'y détache, rêve cri, rêve désespoir, rêve demande d'amour non entendue, demande articulée à un désir qu'une libido ardente présentifie, rend effective. C'est un rêve, reste d'accusation, de crime-châtiment, reste de reconnaissance de filiation dans la cruauté logique du complot des fantasmes oedipiens, quand un fils paye par la mort réelle avant la mort réelle du père. Père, ne vois-tu pas que je brûle?

Ce Séminaire, peut-être le plus décisif d'entre eux, apparaît après la rupture avec l'IPA et parcourt une période de vide institutionnel. Lacan a dû suspendre son Séminaire sur les Noms du Père et attendre pour commencer celui-ci. Reste du Séminaire frustré sur les Noms du Père, le rêve se révèle comme représentant de toute une élaboration coupée,le signifiant déterminant. A certaines occasions, Lacan a rappelé que, lors de ses leçons hebdomadaires, il se situait comme analysant. Nous lisons dans L'insu, à 14-12-76 : En fin de compte, je suis un hystérique parfait, c'est-à-dire sans sinthome, sauf, de temps en temps, cette erreur de genre en question. Il se réfère alors à un de ses lapsus quand il s'adresse à une serveuse au masculin, mademoiselle en est réduit..., ce qui nous renvoie à l'homosexuation du désir dans l'hystérie. Nous savons aussi que l'analysant emprunte le discours de l'hystérique, bien qu'il utilise également le discours de maître ou de l'universitaire/obsessionnel. Dans le passage d'un discours à l'autre, le discours de l'analyste intervient, questionnement par le désir de l'analyste désignant la béance du manque. Dans ce contexte, nous pourrions penser au rêve Père, ne vois-tu pas que je brûle ? comme rêve de Lacan, comme un appel angoissant de Lacan à Freud. Moment décisif du transfert, dans lequel un rêve raconté par Freud devient un rêve de Lacan, nouveau signifiant qui, dans son enseignement, représente une réorientation dans la continuité.

Dans les divers termes, "Verbrenne" en allemand, "brûler" en français, "arder" en espagnol, "queimar" en portugais, et équivalents en d'autres langues, fréquemment le participe passé, l'adjectif, "brûlé", "queimado", prend le sens de discrédité, fini.Le présent de l'indicatif ou le participe présent, "je brûle", "estou queimando", renvoie à la flamme de la libido, mais aussi au moment privilégié où l'on est sur le point de découvrir quelque chose, de dévoiler quelque mystère, de solutionner un problème, ce qui est popularisé par les devinettes et les jeux de cache-cache. Lacan vient d'être "brûlé" par les collègues de l'IPA : comment peut-il revendiquer sa filiation freudienne ? Brûlé par l'IPA pour s'être éloigné d'une certaine orthodoxie, brûlant par rapport à Freud, car être fidèle ne peut être simplement répéter Freud, mais le réinventer, aller au-delà, faire usage du Nom du Père. Le Séminaire 11 va permettre d'allier à la continuité de sa ligne de travail le début d'une réorientation : Lacan brûle particulièrement par rapport au réel. Non seulement une période commence qui assignera au réel un lieu plus adéquat, mais aussi pendant laquelle cette importance permettra à Lacan d'être sur le point de donner au réel une définition plus appropriée ouvrant à de futures formalisations.

Après l'instant de rupture, Lacan aura besoin de l'élaboration du temps de comprendre lors du parcours de ce Séminaire, pour définir, au moment de le conclure, comme freudienne l'Ecole de psychanalyse qu'il fonde.

Symbolique de l'automatisme - réel de la rencontre manquée

Père, ne vois-tu pas? Le Père, lui-même, ne voit pas, l'oeil regarde sans voir. Le mauvais regard et la mauvaise rencontre traversent des aveuglements et des vacillements imaginaires réductibles, différents de l'irréductible réel de la rencontre manquée. Ce rêve vient illustrer la différence entre automaton et tuché, répétition et trauma. Conformément à l'Au-delà du principe de plaisir, c'est en référence au trauma qu'il y a répétition, celle-ci étant située par rapport au principe de plaisir dans un pré-temps, dans une position désignée comme plus primitive, plus élémentaire et plus pulsionnelle (G.W.XIII,22,32-33). L'Au-delà du principe de plaisir correspond à un en deçà par rapport au temps. La répétition se situe du côté de l'automaton et le trauma du côté de la tuché. D'autre part, insistant sur le trauma comme réel, ce que nous appelons "le réel du trauma", Lacan, ne néglige pas, par exemple, au sujet de l'Homme aux loups,dans le Séminaire 1, ni l'imaginaire du trauma ni son rapport au symbolique du mythe oedipien.

Il s'inspire d'Aristote pour modifier la traduction habituelle du Wiederholungszwang, compulsion de répétition, par automatisme de répétition, réservant le terme compulsion à la névrose obsessionnelle "Zwangsneurose". Déjà, la première phrase du texte de 1955, Le Séminaire sur la lettre volée, définit l'automatisme de répétition comme insistance de la chaîne signifiante (E.11). Le fait que Lacan choisisse le terme automatisme, automaton, associé au symbolique imbriqué à l'imaginaire du même, en opposition, en articulation a la tuché du réel, indique que la répétition est du champ du signifiant, du refoulé, bien qu'elle soit toujours en relation à la non-inscription dans le refoulement, du noyau du trauma, du réel. Ce qui se répète (...) nous dit assez son rapport à la tuché (...) réel comme (...)rencontre manquée (54), lisons-nous dans le Séminaire 11. Lacan n'affirme pas : "ce qui se répète est la tuché", mais nous dit assez son rapport à la tuché. A partir de Encore, de 1972-73, cette insistance va s'appeler, conformément aux catégories aristotéliciennes, le nécessaire, qui ne cesse pas de s'écrire, face à l'impossible du réel, qui ne cesse pas de ne pas s'écrire. L'automaton du symbolique est intriqué aux méandres de l'inflation imaginaire de la souffrance de l'analysant, lui-même pouvant aller jusqu'à savourer les expressions "névroses de destin, d'échec", pour s'enivrer de sens. Des rencontres manquées réductibles, de l'imaginaire gonflé de sens que la différence dans la répétition vient dégonfler, subsiste un reste irréductible, le réel de la rencontre manquée. La répétition dans l'expérience analytique se dédouble en différence et répétition, puisque ce qui caractérise le signifiant, c'est sa différence avec un autre signifiant, cette différence coupant, réduisant le même de l'imaginaire. D'autre part, dans le dialogue avec l'analyste, le piège dressé par l'analysant consistera constamment à vouloir confondre incapacité imaginaire et impossibilité du réel.

Le rêve du père qui ne voit pas le fils qui brûle servira à donner un certain étai à l'expression le réel, ce qui revient toujours à la même place. Jusqu'alors, cette expression restait, d'une certaine manière, confuse dans son association aux astres, ceux qui constituent la passion des psychotiques schrebériens. Mais le réel "qui revient toujours à la même place" annonçait déjà quelque chose d'autre que le délire. Et c'est le Séminaire 11 qui définit le réel comme rencontre manquée, réel qui revient, bien que le terme "échapper" soit plus approprié que celui de revenir. Ce réel de la rencontre manquée, d'où également l'importance du rêve du Père, ne vois-tu pas que je brûle?, fait surgir l'affirmation : La mauvaise rencontre centrale est au niveau du sexuel (62). Et plus loin, apparaîtra le réel comme impossible. Ainsi le réel de la rencontre manquée père-fils conduit Lacan à brûler, à s'approcher de très près de la formulation de l'expression qui surgira après le Séminaire 11 : le réel comme impossible du rapport sexuel. Nous pouvons comprendre la raison pour laquelle, lors de la session du 29 janvier 1964, ce sera la dernière fois, et ceci est significatif, la dernière fois que Lacan va insister sur un aspect très répété jusque là, la difficulté que représente la notion de réel. Après le Séminaire 11, il n'aura plus besoin de qualifier de difficile la notion de réel.

Comme sa triade symbolique-imaginaire-réel parcourt tout son enseignement, c'est-à-dire de 1953 jusqu'à la fin, on note la continuité dans l'enseignement de Lacan. Mais il ne faut pas nier des réorientations, bien qu'elles ne soient pas aussi radicales que les nouvelles directions de la seconde topique par rapport à la première chez Freud. A partir de 1953 jusqu'au Séminaire 11, l'articulation de la diade symbolique-imaginaire prédomine, sous la direction du symbolique, ayant comme reste un réel, parfois réel même, parfois réel confondu avec la réalité. Mais, malgré cette confusion initiale, le réel même, "ce qui échappe", se rencontre déjà dans la première référence à la triade, dans le texte Le symbolique, l'imaginaire et le réel de 1953, et va être mentionné, dans les premières années du Séminaire, à propos des maladies psychosomatiques, de l'acting-out, du passage à l'acte, des phénomènes psychotiques, comme quelque chose de l'ordre de la forclusion. Il y a refoulement ou forclusion. Et quand il y a refoulement, il y a des éléments qui échappent à ce refoulement. D'ailleurs, nous devons observer que dans le cas du refoulement, lequel appartient à l'ordre symbolique, il serait plus approprié de dire "le réel du non refoulement", que "le réel du refoulement", le premier se référant au "réel du réel", le second à ce que l'on pourrait appeler, peut-être, le "reél du symbolique".

Jusqu'en 1963, l'articulation symbolique-imaginaire prédomine, le réel étant un reste. Après la rupture avec l'IPA, le Séminaire 11, d'où son importance comme axe-passage, l'articulation symbolique-réel se démarque, s'ouvrant à l'imaginaire comme intermédiaire. A partir du Séminaire Encore, de 1972-73, il y aura un nouveau réagencement avec l'insistance sur l'écriture, l'écriture des noeuds, dans laquelle s'articulent les trois registres. Il ne s'agit plus de la diade symbolique-imaginaire avec le réel comme reste, mis en avant de 1953 à 1964, ni de la diade symbolique-réel s'ouvrant à l'imaginaire comme intermédiaire, de 1964 à 1972, mais du nouage des trois registres, en soulignant leur équivalence. Cette équivalence culmine dans R.S.I., c'est-à-dire dans le réel de la lettre, non-sens de la lettre, pour, conjointement avec le Séminaire suivant, Le Sinthome, s'acheminer, grâce au quatrième noeud, Nom du Père, de l'équivalence à la différence des registres. Cette différence s'articule dans les trois diades, symbolique-réel du symptôme, symbolique-imaginaire de l'inhibition, imaginaire-réel de l'angoisse, ou encore symbolique-réel de la jouissance phallique, symbolique-imaginaire du sens, imaginaire-réel de la jouissance de l'Autre. L'écriture comme perfectionnement du signifiant traduit des termes aristotéliciens : cesse de s'écrire (il est possible que le symptôme arrête de s'écrire, nous pouvons être moins névrosés), cesse de ne pas s'écrire (l'inscription du phallus,l'échappement à la psychose, c'est contingent), ne cesse pas de s'écrire (la répétition est nécessaire au symptôme, car "une fois névrosé, névrosé à jamais"), ne cesse pas de ne pas s'écrire (réel comme impossible du rapport sexuel). Il s'agit de l'écriture du phallus qui sert d'obstacle à l'écriture du rapport sexuel, le refoulement de la signification phallique empêchant le refoulement du rapport sexuel. Cette obstacle-empêchement mériterait le nom de trauma structurel.

Par rapport au schéma de la métaphore paternelle qui illustre le passage sous la barre du refoulement du désir maternel et aussi, par conséquence, de la signification phallique, le rêve Père ne vois-tu pas que je brûle ? , reste du Séminaire interrompu sur les Noms du Père, pour être l'expression de la rupture et pour désigner le réel de la rencontre manquée et renvoyer à l'impossible du rapport sexuel, marque un pas en avant dans le passage de la diade symbolique-imaginaire avec le réel comme reste vers la diade simbolique-réel, s'ouvrant à l'imaginaire comme intermédiaire.

Du réel de la pulsion ?!!

Lors de l'excommunion de Lacan à la fin de 1963,une critique prend du relief: par le fait de négliger la pulsion, son enseignement tomberait dans l'"intellectualisation". Bien que Lacan renvoie cette accusation à la "psychologie de l'ego", cette critique n'en perdra pas pour autant son poids, puisque dans ce Séminaire 11, il va travailler en détail le texte de Freud, Les pulsions et leurs vicissitudes. Freud a élaboré une théorie de la pulsion qui fait appel, d'une certaine manière, à une théorie du désir. Et Lacan, après avoir donné dans les premiers Séminaires une priorité à l'inconscient, au symbolique, au signifiant, construit systématiquement sa théorie sur le désir : dans le Séminaire 5, désir, ressort des formations de l'inconscient, original par rapport à la demande ; dans le Séminaire 6, désir et fantasme a propos de l'interprétation ; dans le Séminaire 7, sur l'Éthique de la psychanalyse, désir et loi, désir de mort ; dans le Séminaire 8, sur le transfert, amour et désir. La "question du désir de l'analyste" apparaît dans La direction de la cure, de 1958, comme effet du Séminaire 5. En plus d'être inconnu comme tout désir, le désir de l'analyste dans le texte de Lacan est toujours accompagné du mot "question" ou posé comme question : Il semble que je dis la même chose dans mon enseignement ces dernières années (...) quel est le désir de l'analyste? (14), c'est une phrase que nous rencontrons dans le Séminaire 11. À partir de là, Lacan peut articuler la théorie de la pulsion chez Freud avec sa théorie du désir, un des aspects qui donnent un relief singulier à ce Séminaire.

L'articulation symbolique-réel passe par la pulsion. Et ce Séminaire permet cette élaboration en relation au désir. La nouveauté à laquelle j'ai fait allusion, et qui s'appelle innovation du champ et de la fonction de la parole et du langage dans l'expérience analytique, ne prétend pas dans le conflit avoir une position exhaustive (117). C' est paradoxal que Lacan appelle "allusion" la référence au texte fondamental de 1953 qui met en avant la fonction structurante du symbolique et lui confère une priorité. De fait, cette phrase indique une correction de directions.S'impose une meilleure articulation avec le réel qui limite le symbolique. Plus tard, dans son Séminaire Les non-dupes errent, Lacan commente que nous nous trompons quand nous accordons au symbolique une importance écrasante par rapport à un imaginaire sur lequel j'ai tiré au début à cause du narcissisme (13-11-73). Il est vrai que, si nous nous sommes trompés, nous suivions l'exemple de Lacan, tirant sur l'imaginaire associé à "illusoire" et "paranoïaque". L'imaginaire a pris une telle prédominance avec Anna Freud et les psychologues de l'ego, et, aussi avec Mélanie Klein, bien que d'une manière plus analytique, que la prédominance du symbolique comme réaction à une primauté de l'imaginaire serait la conséquence logique de l'enseignement de Lacan.

De fait, la diade symbolique-imaginaire, comme il apparaît dans la première partie de l'enseignement de Lacan, souligne une priorité du symbolique par sa fonction structurante. Également, tout au long de son enseignement, Lacan utilise normalement, et même dans le Séminaire R.S.I., la séquence "le symbolique, l'imaginaire et le réel", qui est appelée séquence correcte dans le Séminaire Le Sinthome. La propre expérience analytique illustre comment le symbolique, l'apparition de nouveaux signifiants, restructure l'imaginaire. A partir du Séminaire 11, l'accent donné à la diade symbolique-réel va recourir à la nécessité de l'intermédiation de l'imaginaire, ce qui permettra une évaluation plus adéquate de l'importance de l'imaginaire.

L'étude de Lacan sur Les pulsions et leurs vicissitudes va servir d'illustration de l'articulation symbolique-réel. Le réel de la pulsion n'est pas le biologique de la pulsion, car une fonction biologique (...) a toujours un rythme.La pulsion n'a pas de jour ou de nuit, qu'elle n'a pas de printemps ni d'automne, qu'elle n'a pas de montée ni de descen te. C'est une force constante. (150). Constance (...) individualisée, variable. C'est-à-dire, les gens ont plus ou moins grande gueule (156). Le réel comme impossible apparaît là alors qu'aucun objet d'aucune Not, besoin, ne peut satisfaire la pulsion (153). Aucun aliment ne satisfera jamais la pulsion orale, si ce n'est à contourner l'objet éternellement manquant (164). Nous pouvons mettre en relief ici le réel de la satisfaction impossible. Réel désigné également dans la désexualisation, illustré par la nausée de l'hystérique, les symptômes pouvant apparaître dans des zones erogènes autres que les orifices du corps, source de la pulsion.

Lacan dessine la pulsion dans son mouvement circulaire d'aller-retour, faisant allusion de manière suggestive dans ce Séminaire 11 à une citation d' Héraclite : A l'arc est donné le nom de vie - Bios, et son oeuvre est la mort. Le graphe du désir hérite d'une histoire très ancienne.

Lacan met en relief le symbolique de la pulsion quand il la décrit comme un "montage" et quand il souligne le recours de Freud aux systèmes linguistiques dans les voies active, passive et réfléchie du mouvement d'aller-retour de la pulsion. Et il associe la pulsion aux défilés de la demande.

L'imaginaire de la pulsion se trouverait surtout dans ce qui est appelé Ichtriebe qui, nous dit Lacan, ne sont pas de véritables pulsions (164). Maintenant, apparaît le questionnement de l'amour, champ de la réciprocité, par la pulsion, champ de l'hétérogénéité, questionnement jusqu'à maintenant réservé au désir, que l'expression "désir de l'analyste" représente : distinction radicale qu'il y a entre s'aimer à travers l'autre - ce qui ne laisse, dans le champ narcissique de l'objet, aucune transcendance à l'objet inclus - et la circularité où l'hétérogénéité de l'aller et du retour montre dans son intervalle une béance (177). Lacan différencie deux manques. Le premier, lien de "être sujet au sexe" à la mort individuelle, se souvenant que la pulsion partielle est fondamentalement pulsion de mort, et la seconde, le fait que le sujet dépende du signifiant et que le signifiant est d'abord au champ de l'Autre (186). Et Lacan articule pulsion et désir : L'objet du désir, c'est la cause du désir, et cet objet cause du désir, c'est l'objet de la pulsion - c'est-à-dire, l'objet autour de quoi tourne la pulsion (...) le désir en fait un tour en tant qu'il est agi dans la pulsion (...). Mais chaque fois que vous avez affaire à un objet de bien, nous le désignons (...) comme objet d'amour (220).

L'imbrication de la pulsion au désir constitue une contribution décisive de ce Séminaire, en autant que questionnement de l'amour, questionnement, bien sûr, de l'amour de transfert.


Pour le Congrès de Convergencia de février 2001 à Paris, le cartel "temps et inconscient", auquel je participe avec Alain Didier-Weill, Alba Fleiser, Isodoro Vegh, Nora Markmann, Paola Mieli et Ricardo Saiegh, pose certaines questions qui vont maintenant servir de repères à mes commentaires.

Si Parménide niait le temps qu'Héraclite reconnaissait, Newton et Einstein considéraient la dimension du temps inexistante en dehors de l'esprit humain. Dans ses ouvrages La fin des certitudes et Les lois du chaos, Prigogine, prix Nobel de chimie en1977, et aussi physicien et philosophe, introduit la dimension du temps en physique. Il soutient que le temps précède l' existence et que l' univers eut un commencement, mais le temps, non. La question du temps est en train de révolutionner la science.

En psychanalyse, les paradoxes, moyen incontournable de nos débats, paraissent s'exacerber quand il s'agit du temps. Freud parlait d'a-temporalité de l'inconscient, et Lacan, de la synchronie déterminante du désir en relation à la diachronie, de la chronologie de l'histoire d' un sujet. Cette a-temporalité freudienne se confronte aux récits concernant les premières hystériques, imprégnés de questions sur le temps., temps de l' apparition du symptôme. Aujourd'hui, face à la plainte formulée par les analysants, nous demandons: "Quand avez-vous exactement (le "genau" très répété de Freud), commencé à bégayer?" ou "Depuis quand avez-vous ce tique à l' oeil?" Interrogation toujours valable. Constamment des courts-circuits inconscients réarticulent des signifiants: tel fait raconté renvoie à tel autre, telle conversation sur une rencontre à telle date en rappelle une autre antérieure, de l'imprévu surgit, par exemple, à la fin de trois années d' analyse, évoquant ce qui s'est passé à l' âge de trois ans. C' est le "nachträglich" mis en évidence par Paola Mieli à propos du traumatisme dont la vérité historique est constamment interprétée et réinterprétée, questionnée par le fantasme. Bien que la primauté de la mort dans le psychisme de l' obssessionnel dispense la mort réelle du père au cours de l' enfance, si cette mort réelle se produit, elle laisse ses marques dans le fantasme d' un sujet. Alba Flesler utilise une phrase suggestive: " le sujet n' a pas d' âge mais a des temps". Tous les trois ans, un sujet provoque une rupture douloureuse, répétant par exemple la mort du père. Nous pouvons nous demander jusqu' à quel point "trois ans" prétend donner l' âge du sujet, illustrant une "conversion de temps" par la répétition, quand un temps successif deviendrait un temps circulaire.

Il est difficile d' éviter la notion de temps quand nous nous référons aux termes "processus primaire et processus secondaire, principe de plaisir, principe de réalité". Et Freud emploie la terminologie "pré- temps (Vorzeit) et plus primitif (ursprünglicher), quand il qualifie l' "au-delà du principe de plaisir" de la répétition en relation au principe de plaisir. Et quant à la pulsion, Lacan rappelle que pour Freud, il n' y a ni jour ni nuit, ni printemps-automne dans la pression (Drang), et qu' à propos de la source (Quelle), extrémités des orifices du corps, il n'y a aucun rapport d'engendrement d'une des pulsions sexuelles à la suivante (164), mais que la finalité (Ziel) de la pulsion montre le temps, car la pulsion représente (...) et partiellement, la courbe de l'accomplissement de la sexualité chez le vivant. Comment s´étonner que son dernier terme soit la mort? (161-162). Il y a trois temps dans ce mouvement circulaire de pulsion, d' aller et retour, car dans un troisième temps (..) apparition d'ein neues Subjeckt (...) qui est proprement l' autre (...) em tant que la pulsion a pu fermer son cours circulaire (162).

A propos du temps logique, Lacan distingue "l'instant de voir, le temps de comprendre, le moment de conclure" qu' Isidoro Vegh dénomme justement "densité de temps" que la "dimension subjective" vient modifier.

Mais le temps insiste et persiste dans une thèse fondamentale de Lacan, répétée de mille et une manières. Par exemple, dans ce Séminaire 11, il affirme: la relation du sujet au signifiant est le repère (...) d' une rectification générale de la théorie analytique, car il est aussi premier et constituant dans l' instauration de l' expérience analytique, que premier et constituant dans la fonction radicale de l' inconscient. Lacan parle de S barré, le sujet, em tant que constitué comme second par rapport au signifiant (127, 129). Le sujet naît em tant qu'au champ de l'Autre surgit le signifiant. (...) cela qui auparavant n´était rien, sinon sujet à venir - se fige en signifiant (181). Nous trouvons aussi l' avant et l' après à propos du vel de la première opération essentielle où se fonde le sujet (...) l' aliénation (191) et de la deuxième opération (...)c'est là que nous allons voir pointer le champ du transfert(...) la séparation (193-194). Avant et après, premier et second, (Freud parlait de primaire et secondaire), la question du temps est incontournable dans le rapport signifiant-sujet et aliénation-séparation.

Je rappelle des points indiqués dans la première partie de ce travail: du commencement à la fin de son enseignement, et même dans le texte de son Séminaire R.S.I., dont le titre vise à mettre en évidence le réel du non-sens des lettres, Lacan utilise la séquence "le symbolique, l' imaginaire et le réel". C' est la séquence " correcte", "dans le bon ordre", comme Lacan le spécifie dans " Le Sinthome". Le "partir du symbolique" des premiers Séminaires se retrouve dans R.S.I. quand Lacan nous rappelle que les analystes opèrent toujours en partant du symbolique, de l'équivoque" (10-12-74). Au Symbolique est attribuée une fonction structuratrice déterminante, fonction qui ne disparaît pas avec l'équivalence des registres. D' ailleurs le surgissement du quatrième noeud Nom-du-Père marque le passage de l' équivalence à la différence des registres et leur articulation en double, symbolique-imaginaire, symbolique-réel, réel-imaginaire.

Cette position d' antériorité logique du symbolique se confronte à ce qu' on appelle " le réel primordial". Alain Didier-Weill, dans son livre Les trois temps de la loi , met en relief ce réel du chaos primordial dont le petit enfant se voit arraché par la musique de la voix de la mère. Il s' agirait ici du pré-subjectif du petit enfant, qui cependant, naît dans un monde déjà structuré par le langage et par la loi d' interdiction de l' inceste qui se situent dans une "antériorité logique du symbolique". Et quant au subjectif, sans antériorité du signifiant, rien n' existe du sujet.

Lacan commente aussi la pulsion temporelle au sujet de la fermeture de l' inconscient et affirme que le transfert est essentiellement résistant,Übertragungswiderstand. La transfert est le moyen par où s' interrompt la communication de l' inconscient, par où l'inconscient se referme. Paradoxalement, l' analyste doit attendre le transfert pour commencer à donner l' interprétation (119). L' attente indique combien le temps est incontournable dans l' établissement convenable du transfert.

Dans Fonction et champ de la parole et du langage (E.268), Lacan constate que l'expérience analytique va en se réduisant au dialogue entre analysant et analyste. Cette réduction qui, nous devons l' admettre, exige du temps, du temps d'élaboration, se heurte à une autre position de Lacan que nous épinglons em nos termes : analyse "dans" le transfert, oui, analyse "du" transfert, non. La critique de l' analyse "du" transfert est provoquée par certains abordages persécutants: à propos de n' importe quel sujet ou personnage que l' analysant mentionne, l' analyste le prend pour lui-même. "Hier, j' ai rencontré un idiot!" dit l' analysant. "C' est moi!", s' empresse de dire l' analyste. L'analyste peut très bien occuper la place de l' idiot mais ce n' est pas nécessairement son privilège! Mais à certains moments, il n' est pas possible d' échapper à l' analyse "du" transfert. Je me souviens, lors d'un contrôle, avoir indiqué à un analyste la nécessité de l'explicitation du transfert de ses analysants. Il doutait de cette orientation, insistant sur l'idée que Lacan s' oppose à l' analyse "du" transfert. Effectivement, on doit éviter le stratagème persécuteur qui réduit toutes les références de l' analysant à l' analyste. Mais l'analyse du transfert se révèle importante après un certain temps d' expérience et indispensable dans les moments d' impasse. Elle s' impose quand le discours de l'analysant insiste dans le genre annuaire téléphonique: "Je suis le Jean incapable, le Jean qui a échoué, le Jean maudit, le Jean bon à rien, le Jean mauvais fils, le Jean qui est le pire des pères, le Jean mari insupportable, le Jean avec un zéro à gauche et zéro zéro à droite" , liste couronnée par la conclusion "cette analyse est un échec". Cela renverrait, selon Freud, à la nécessité de punition. Cette répétition doit être articulée aux signifiants en jeu, impliquant directement l' analyste. Car cela ne manque pas d' être une accusation contre lui, cette perpétuité de l' inflation imaginaire de la même plainte répétée, empêchant le surgissement de nouveaux signifiants ou neutralisant leur efficacité. Il n' y aurait véritablement pas d' analyse "du" transfert sans analyse préalable "dans" le transfert, mais les deux finissent par s' imbriquer, justement avec la réduction de l' expérience au dialogue analysant-analyste. Nora Markmann parle d'un temps de construction suivi d'un temps d'interprétation. C' est une manière de nous demander jusqu' à quel point une interprétation produit un effet sans quelque type de construction préalable. Si nous incluons la construction dans l' interprétation, nous pourrions penser à trois temps: un premier, attendre le transfert pour interpréter; un deuxième, interpréter dans le transfert; un troisième, interpréter le transfert. Nouvelle version de la triade, instant de voir, temps de comprendre, et moment de conclure.

Les répétitions des plaintes des analysants ne manquent pas d'évoquer les " pourquoi ?" des enfants. Dans l' intervalle, coupant les signifiants, l' énigme du désir de l' adulte à laquelle l' enfant, derrière ces innombrables " pourquoi ? ", tente, nous dit Lacan, de donner un nom, : le premier objet qu' il propose à ce désir parental dont l' objet est inconnu, c'est sa propre perte - Veut-il me perdre? Le fantasme de sa mort, de sa disparition, est le premier objet que le sujet a à mettre em jeu dans cette dialectique. L'anorexie mentale serait une illustration de ce désir de mort (194-195). Le père, parfois totalement épuisé après un interrogatoire implacable, réagit aux derniers " pourquoi ? " du fils:
-Pourquoi la serviette est blanche?
-Parce qu' elle n' est pas rouge.
-Pourquoi tu me regardes?
-Parce que je ne suis pas en train de regarder le plafond. S' il te plaît, arrête de poser des questions.
-Pourquoi arrêter de poser des questions? Pourquoi?

Dans les neuroses très graves, comme nous pouvons le supposer dans les analyses des analystes, car sans neurose grave, il est difficile d' arriver à être analyste, vu que l' analyste est un effet d' une analyse intensive, longue (et ici réapparaît la question du temps de l'analyse terminable-interminable?), à un moment donné, on se heurte à un "je suis incapable, point final", l' incapacité assumant un semblant d' impossibilité pour confondre l' analyste, ce qui très fréquemment arrive quand l' analyste incline à considérer comme réel quelque chose de l' ordre de l'inflation imaginaire du sens de la souffrance. En entendant le "je suis incapable, point final", il est clair que l' analyste doit placer ici un point-virgule, ou des points de suspension ou compléter la phrase "incapable de...". Face à un hystérique grave, il pourrait introduire une question à propos de l' "incapacité ou de l'impossibilité de devenir femme". Mais vu que le désir de mort serait, dans la répétition du pourquoi , le désir attribué par l' enfant à l' égard de ses parents pour l' énigme du désir de l' Autre, il y aurait lieu d'associer la répétition plaintive accusatrice de l' analysant à un désir de mort attribué à l' analyste. L' aller et retour de la pulsion en son temps circulaire, laisse un reste métonymique, élément nécessairement en impasse, insatisfait, impossible, méconnu, élément qui s´appelle le désir (141). Il faut du temps pour que l'analyse "dans" le transfert permette une analyse "du" transfert qui échappe à l' aspect persécuteur, mais qui n' échappe pas à la question angoissante de l' analysant: "Serait-ce que vous, mon analyste, souhaiteriez ma mort?"

L' analyse s'est-elle arrêtée? Est-elle devenue un cauchemar? Cauchemar, ce temps sans limite, selon les commentaires de Ricardo Saiegh. La diversification prolifère dans les perturbations du temps: temps éternel dans la psychose, temps prorogé dans la neurose obsessive et anticipé dans l' hystérie, temps retenu dans la phobie, temps suspendu dans l' inhibition. Quand, à la répétition des plaintes, succède une nouvelle répétition des mêmes plaintes, dans les situations limites correspondant à un arrêt dans le temps, à un cauchemar de l' analyse désirée comme échec, jusqu' à quel point dans cette répétition du pourquoi chez l' enfant revécue dans l' analyse, dans le "pourquoi est-ce que je souffre tant?", l' analysant ne serait-il pas en train de se confronter au croisement des désirs des temps de l' enfance, à savoir, à la question que l' analysant se pose sur le désir de mort de la part de l' analyste traversant le désir de mort de l' analysant sur l' analyste.

Pour arriver à poser cette question, l' analysant a besoin de temps, de plusieurs temps d' élaborations.
Notes:

-Le début de la première partie du texte reprend des élaborations de mon travail intitulé L'interprétation des rêves et le réel présenté au Congrès de Escola lacaniana de psicanálise, août 2000, à Rio de Janeiro.

-Les nombres entre parenthèses indiquent les pages de Lacan, J., Le Séminaire, livre XI, Les quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse, (1964), Paris, Seuil, 1973.

-G.W. XIII, 22, 32-33 renvoie à:
Freud, S., Jenseits des Lustsprinzip (1920), Frankfurt am Main, Fisher Verlag, 1940.
-Sont cités des Séminaires inédits de Lacan:
le XXI, Les non-dupes errent (1973-1974);
le XXII, R.S.I. (1974-75);
le XXIII, Le Sinthome (1975-76);
le XXIV, L' insu (1976-77).

-Je me réfère aussi à la production des collègues du cartel:
Alain Didier-Weill, Les trois temps de la loi, Paris, Seuil, 1995;
Alba Flesler, Fin de análisis en los tiempos de la infancia, (Reunión lacanoamericana de psicoanalisis,Bahia, août 1997);
Isodoro Vegh, Tiempo y inconciente; Reunión del cartel Tiempo y inconciente (juillet 2000); et un texte sur"Borges";
Paola Mieli, Les temps du traumatisme, (mai 2000);
Ricardo Saiegh, Pesadillas atemperadas por soñar (août 2000).